Refeitório - Local Público

Desespero.

Mais uma vez perco um amigo para esses zumbis infelizes. Estava com Josh, meu agora falecido colega de trabalho quando ele foi mordido no pé por uma dessas criaturas repugnantes e foi levado, mas ante ele deixou o revólver dele comigo. Ele ia morrer mesmo, não que eu não estivesse – e estrou – ressentido, mas poxa... ele morreu.

Com agora um revólver que não sei usar direito, pois minha referência é com armas brancas e por isso uso meu taco de baseball com mais frequência, já está todo manchado de sangue. Virei um assassino. Me recuperando da morte de Josh, encontrei uma escola... aparentemente com poucos zumbis, mas eu não podia afirmar nada já que nunca estive lá. Abri o portão do colégio e entrei. Aqui estou, bem na porta do colégio.

Fico em dúvida se entro ou não. Por fim, sei que ficar na rua é mais fácil de ser pego que dentro de lugares fechados, foi a causa da morte de Josh. Ou a transformação dele para virar um desses monstros horripilantes. Abro a porta e avisto um corredor extenso. Armários entreabertos e manchas de sangues por vários locais, começo revistando alguns armários com cuidado, talvez pudesse ter algo de útil ali. Muitas portas, mas o que eu queria mesmo é achar algo que me interesse e possa me ajudar.

Avisto uma porta dupla e deixo o revólver preso na calça e o bastão de baseball firme na mão, não podia tremer como fiz em quase todos os momentos difíceis com Josh, estava sozinho agora e ele não podia se jogar na minha frente mais. Chuto a porta e avanço com rispidez para dentro daquele cômodo. Era um refeitório. Sempre atento a todos os meus lados, começo a revistar todas as mesas para verificar que nenhum zumbi irá me pegar desprevenido.

Depois de certificar que estou temporariamente seguro, sento-me na mesa em mais bom estado e fico pensativo. O que iria fazer agora? Tinha que pensar... mas não só pensar, coisa que faço muito. Eu iria agir.

Ele se apresenta então percebo que ele não era ofensivo, ou pelo menos não aparentava. Tinha um jeito preocupado, talvez estivesse com rancor de algo ou somente triste... desesperado. Vejo que ele senta na mesa e eu o acompanho, sento ao seu lado e me apresento.

- Bem, eu sou Dëen Jonk Shukgruber. - Suspiro, tanto tempo que eu não cumprimentava alguém nos dias de hoje, conhecer novas pessoas anda difícil. - E antes do apocalipse eu... ah, deixa para lá. Passado é passado.

Não ia revelar a ele, muito menos a ninguém. Tudo atrás do que sou hoje é um mistério para quem não conviveu comigo, não sou uma flor que se cheire. Tenho espinhos.

- Mas e então. Agora que já estamos nos conhecendo melhor, você acha mesmo esse lugar seguro? Não acho que ficar aqui vai ser a melhor opção. Nem suprimentos temos direito. O tenente tem que ficar pedindo para que a gente busque, é mais arriscado ficar siando toda hora que se abastecer em outro lugar. O que você acha?

it's vegas, baby

Aquela não era a forma como eu imaginava que chegaria em Las Vegas um dia. Dia pós dia, noite pós noite vagando pelas floresta, matando errantes, sobrevivendo as condições de climas instáveis e se alimentando do que consegui salvar dos mantimentos do último grupo de sobreviventes no qual estive, que fora atacado por um grupo de errantes. Não tive contato com nenhum do grupo desde então, e não sabia exatamente onde estava, até encontrar uma placa que dizia "Bem vindo à Las Vegas".

Minha comida (biscoitos, feijões e sardinhas enlatadas e alguns pacotes de macarrão instantâneo) e minha água estava em seu limite e eu não comia nada a dias, a fim de econômizar. Eu estava tonta de fome e minhas roupas sujas de sangue, devido ao mal habito de limpar minha faca em minha roupa. Eu precisava encontrar um lugar onde houve civilização. Qualquer lugar. Mas eu estava agora atrás de uma observando a avenida principal de Vegas que se encontrava tomada por cerca de 30 errantes, e eu não daria conta de todos sozinha em minhas condições. Nunca tive problemas com a solidão, mas eu sabia que não iria sobreviver por muito tempo assim, apesar de ter ido longe sozinha. Eu era cuidadosa, mas não tinha medo. Por mim, naquele momento, não havia muita diferença entre viver e morrer... até que morrer ali, desidratada e faminta não era tão má ideia.

Observei novamente o perímetro, atrás da árvore, tentando não chamar a atenção dos errantes. Eu via os letreiros dos hoteis e casinos que um dia brilharam e fizeram muito dinheiro circular e só imaginava o que poderia haver de comida ainda lá dentro... Mas eu não chegaria lá sem ser vista. Sai dali e andei silênciosamente na direção onde havia um vilarejo e uma escola no final da rua. Na rua havia alguns errantes caidos, cujos acordariam ao minimo ruido que ouvissem. Tirei meu arco das costas e me previni caso isso acontecesse. Como era de se imaginar, três deles se levantaram. Atirei nos mesmos e recolhi as flechas, antes de chegar até o vidro da janela da escola. Estava muito sujo, por isso não consegui ver se estava vazio, mas não deveria estar pior do que a rua se tornaria em questão de minutos.

Sem pensar muito no que poderia me esperar ali, quebrei o vidro com a faca e entrei pela janela. Observei o local sob a luz da lanterna enquanto o cheiro de corpos apodrecidos, o que eu chama de cheiro de morte, invadia minhas narinas. O lado bom do local foi que eu dei sorte e entrei justamente na parte da escola que procurava: O refeitório. O lado ruim era que não havia corpos ali, sinal de que havia errantes "vivos" ali, ou o local havia sido limpo por sobreviventes, que poderiam ter esvaziado as dispensas, ou talvez ainda poderiam estar ali e ser hostis, afinal, o mundo mudou e as pessoas mudaram junto. Uma conversa nem sempre impedia um grupo de te matar. Mas eu não havia tempo para pensar nisso. Avancei sorrateiramente até a dispensa e enchi minha mochila com o que encontrei. Eram algumas barras de cereais, sucos de caixinha, enlatados e mais algumas coisas que não consegui indentificar na pressa. O local não estava assim tão cheio. Alguém estivera ali antes de mim, e outras pessoas poderiam chegar chegar de mim. Meu lado humano ainda sobrevivia apesar das muitas coisas que meus olhos viram. Decidi não pegar tudo o que havia ali ainda. Encontrei uma pia, mas não quis encher meu cantil ali. Aprendi a não pegar água de qualquer lugar, já que eu não sabia o que havia naquela caixa d'água. Pela manhã eu daria uma olhada e procuraria a caixa.

Após reabastecer minha mochila, dei uma outra examinada no local. Não havia cadáveres, apesar do cheiro. Com toda certeza alguém estivera ali. Fechei a porta do refeitório e me sentei atrás da porta. Comi alguns biscoitos e bebi um suco em silêncio, o que não me fez estar completamente satisfeita. Ao terminar meu estômago ainda roncava mas eu sabia que deveria econômizar. Observei minhas roupas sujas e minha pele branca marfim, o que me fazia parecer mais doente, e examinei cada parte do meu corpo. Havia muitos arranhões porém nenhum corte grave. O último corte que sofri havia sido saqueando um hospital com o antigo grupo: Na hora de pular a janela o vidro havia cortado meu braço. O ferimento foi cuidado por um cara do grupo e agora estava quase completamente cicatrizado.

Exausta, entediada e aparentemente segura, decidi fechar os olhos por alguns segundos, do medo de dormir que sempre me acompanhava. Comecei a pensar como as coisas eram antes da epidemia e como eu era "feliz". Perdida em pensamentos, meus olhos se fecharam e eu adormeci, sem saber se acordaria no dia seguinte.

Notes: Lonely ♦ Tagged: Lonely Alone ♦ Words: Too much ♦ Wearing: Trapos revestidos de sangue

♦ The White Swan ♦ @CG